A Universidade de Macau (UM) inaugura hoje o Centro de Ensino e Formação Bilingue (Chinês e Português). Instalado no edifício E31 e E32 da UM, o Centro tem a sua própria autonomia embora esteja “ligado e dependente” do Departamento de Português. “O departamento está muito ligado à Licenciatura, Mestrado e Doutoramento, mas há muitos outros trabalhos de investigação e estudos que, de facto, necessitam de ser realizados e teria de haver um espaço, inclusive pessoas e recursos, que trabalhassem essa parte que não é desenvolvida no departamento”, disse Maria José Grosso, directora do Centro, ao Jornal TRIBUNA DE MACAU.

Anunciado no ano passado, o Centro pretende “promover a formação linguística de quadros qualificados bilingues”, referiu Maria José Grosso. “As línguas vão ser trabalhadas em termos comparativos. O Centro surge, de facto, para formar esses quadros qualificados bilingues, em Português e Chinês, e tem o objectivo de formar formadores a nível linguístico. Ao mesmo tempo, [queremos] elaborar e rever materiais didácticos sempre com a componente bilingue”, revelou.

Nesta fase, o Centro irá fazer uso de um referencial de Português como língua estrangeira para falantes de língua materna – projecto desenvolvido pela docente, há três anos. A partir daí, indicou, o Centro irá “servir-se desta investigação para formar formadores”.

Para já, será lançado “um curso bilingue para o próprio ‘staff’ da Faculdade”, concretamente para pessoas que têm o Chinês como língua materna. “A ideia é estarem dois professores (Português e Chinês) na sala de aula, até para perceber qual é a rapidez e o próprio desenvolvimento da competência comunicativa”, explicou a directora do Centro, que assume com a docente Jing Zhang a responsabilidade científica e desenho dos cursos.

Com esta formação pretende-se “ver como as pessoas respondem com os recursos e material existente”, sendo que “nesta primeira fase será uma coisa simples e pedagógica dentro do que é um curso livre”, apontou. Segundo Maria José Grosso, esta é outra vertente do novo Centro da UM: todos os cursos oferecidos são livres o que, até agora, só existia através dos Cursos de Verão.

Quanto à docência dos planos de formação em causa, Maria José Grosso indicou que alguns professores integram o Departamento de Português, o que não invalida convidar profissionais do exterior. “Vamos tentar superar, se for possível, algumas dificuldades ou inclusive alguns pedidos que muitas vezes surgiam aqui e aos quais não podíamos responder”.

Além disso, será também criado um plano de formação linguístico mais técnico, direccionado para administrativos, dirigentes, chefias, professores, entre outros, que queiram desenvolver a sua competência linguista e comunicativa para níveis de autonomia (C1) e mestria (C2).

Ainda não se conhece o número de alunos que o Centro poderá suportar pois só agora está a dar os primeiros passos. “Verificámos com os nossos ex-alunos que frequentaram ou estão a apoiar cursos de Português em instituições particulares, empresas na China, entre outros, muitos dos quais com interesse em África, que uma das grandes dificuldades é a ligação linguística e cultural aos países de língua portuguesa”, contou. “Como negociar em África? E na China ou Portugal? Todas estas coisas têm de ser apoiadas, até para serem mais rápidas, em trabalhos e investigação. É com esses objectivos que, de facto, o Centro está a tentar trabalhar, destacou.

 

Melhorar o currículo do Português

Embora o tipo de ensino do Português – através deste Centro – seja mais “técnico e específico”, isso não significa que o “identificar, conhecer e pôr em prática” serão esquecidos. “Haverá acompanhamento linguístico e formação, aplicação do referencial e ainda cursos livres de gramática comparada”, explicou Maria José Grosso. “Às vezes, comparando duas línguas ou mais, ficamos a saber mais de outras línguas – este modo de ver as línguas é também uma forma de promover o plurilinguismo”, destacou.

Nesse campo, a directora acredita que Macau necessita de se actualizar. “Agora que está focado no plurilinguismo e no desenvolvimento das línguas, tem de se actualizar. E essa actualização, obviamente, não passa só pelo aspecto tecnológico”, advertiu.

Por outro lado, a docente acredita que o acompanhamento linguístico que será prestado a professores e educadores de infância em exercício, entre outros, irá contribuir para melhorar o currículo de ensino do Português. “Quando falamos no desenvolvimento de línguas temos de considerar o próprio desenvolvimento da política linguística, em termos globais e da própria universidade, recursos humanos e materiais. Ora, do que sei, essa será uma vertente que tem mais a ver com a política linguística”, observou.

Outra vertente que o Centro pretende desenvolver prende-se com a avaliação e certificação. “O que vamos fazer e isso depende muito de várias coisas é, de certa forma, convidar pessoas – incluindo até chinesas, outras portuguesas – que farão essa ponte e avaliação e certificação porque a própria China aderiu facilmente ao próprio quadro Europeu comum de referência”, contou.

Além disso, explicou, já foi feita uma “compilação de todos os manuais feitos em Macau e na China, em várias editoras, para ver se são adequados ou não”. “Macau é um polo de excelência em relação à educação das línguas, designadamente do Português, Inglês e talvez do Chinês. Vamos ter, com o tempo, uma plataforma que vai funcionar com aspectos específicos e dificuldades. Há aqui uma série de laboratórios de línguas muito produtivos e actuais e que, de facto, têm de ser utilizados”, referiu Maria José Grosso.

Noutro domínio, e para tentar colmatar uma certa ausência de “imersão linguística” durante o processo de aprendizagem da língua, o Centro poderá, no futuro, providenciar “bolsas ligadas ao GAES ou outra instituição”, revelou.

A par de tudo isto, o Centro irá colaborar com o Fórum Macau através da oferta de cursos sobre a língua e cultura chinesas para alunos dos países de língua portuguesa e, sobretudo, dar suporte para cursos profissionais de ensino de Português em áreas específicas. “Para apoiar esses quadros qualificados e bilingues tem de haver um interesse do próprio Centro, o que existe”, começou por explicar. “As áreas de formação do Fórum Macau incluem, desde 2011, gestão de hotelaria, turismo, serviços públicos, desenvolvimento de negócios, entre outros. Vamos, dentro do que já foi dito, criar pequenos cursos de língua e cultura portuguesa voltados para essa área”, concluiu.

Fonte: 26 de maio de 2017, JTM